Autor: Palco em Pauta

  • Coreografia & Direção de Movimento

    Coreografia e direção de movimento no teatro musical: o que é, por que importa e como reconhecer um bom trabalho

    Se você ama teatro musical — ou está começando a se apaixonar — talvez já tenha se perguntado: “como conseguem fazer tudo aquilo parecer tão natural no palco?”

    A resposta não está apenas no canto e da atuação. Está também no movimento. No jeito como os personagens dançam, ocupam o espaço, se movem. Tudo isso é (ou deveria ser) intencional, e dois elementos ajudam a construir esse resultado: a coreografia e a direção de movimento.

    Quando falamos de coreografia, muita gente pensa logo em grandes números de dança, passos difíceis, giros e saltos impressionantes. E sim, isso faz parte — mas no teatro musical, a coreografia vai muito além da técnica.

    A coreografia em um musical é uma ferramenta narrativa. Ela está ali para contar uma história com o corpo, para expressar o que palavras ou músicas, sozinhas, não dariam conta de dizer. A dança tem o potencial de emocionar tanto quanto a canção.

    Uma boa coreografia é pensada a partir da cena, dos personagens, do momento emocional daquela parte do espetáculo.

    Por exemplo: 
    – Uma dança mais solta e alegre pode mostrar liberdade ou paixão 
    – Um movimento rígido e repetitivo pode representar opressão, controle ou conflito 
    – Uma coreografia marcada por gestos contidos pode sugerir tensão, medo ou desejo reprimido

    Além disso, a coreografia dialoga com os outros elementos do palco: a música, o cenário, a luz e até o figurino. Tudo precisa funcionar em conjunto. É comum que, em certos momentos, a coreografia esteja presente até em detalhes pequenos — como um simples andar em grupo que, quando bem ensaiado, já comunica uma sensação coletiva.

    Ou seja: a coreografia não é só dança. É linguagem. É dramaturgia. É emoção coreografada.

    Agora, vamos falar sobre algo mais discreto, mas igualmente essencial: a direção de movimento.

    Diferente da coreografia, que trabalha com música e ritmo, a direção de movimento cuida de como os corpos ocupam o palco quando não estão dançando. Isso inclui gestos cotidianos, posturas, deslocamentos, expressões físicas e tudo aquilo que constrói a presença cênica dos personagens.

    Parece simples, mas faz uma enorme diferença. A forma como um personagem caminha, senta, respira, olha para o outro, segura um copo ou se posiciona em cena pode reforçar ou contradizer o que está sendo dito com palavras.

    Esse trabalho ajuda o elenco a encontrar coerência física. Por exemplo: 
    – Um personagem idoso pode ter um movimento mais lento e cuidadoso, mesmo que seja interpretado por um ator jovem 
    – Uma figura poderosa pode não precisar se mover muito — sua postura já impõe respeito 
    – Já um personagem inseguro pode ocupar menos espaço, evitar contato visual, mover-se de forma hesitante

    Além disso, a direção de movimento atua nas transições entre cenas, ajudando a conectar os momentos de forma fluida. Muitas vezes, é ela que transforma o simples ato de atravessar o palco em algo expressivo, com intenção.

    É importante também diferenciar direção de movimento da direção geral de uma peça. O diretor (ou diretora) cênico é responsável por toda a visão artística do espetáculo: ritmo, marcações, interpretações, transições, estética e mais. Já a direção de movimento foca exclusivamente no corpo dos atores em cena — nos gestos, posturas, dinâmicas e fisicalidade. Em algumas produções maiores, essas funções são bem separadas, com profissionais diferentes cuidando de cada aspecto. Mas em muitas outras, especialmente em montagens menores ou com menos recursos, o próprio diretor acumula esse olhar corporal, ou essa dimensão é explorada de forma mais intuitiva com o elenco. Ainda assim, quando há alguém focado só no movimento, é possível perceber um refinamento físico maior e uma consistência corporal ao longo de toda a peça.

    Essa camada é tão bem integrada que o público quase nunca percebe conscientemente. Mas sente. Sente que há algo verdadeiro acontecendo ali. E essa verdade corporal é construída com cuidado, gesto por gesto.


    Como identificar uma boa coreografia (mesmo sem ser especialista)


    Você não precisa ser bailarino ou coreógrafo para reconhecer quando a coreografia está funcionando. Preste atenção em alguns sinais:

    – A dança faz sentido dentro da história (não parece colocada só “pra enfeitar”) 
    – Os movimentos dizem algo sobre os personagens ou o momento da cena 
    – O ritmo e a energia estão conectados à música e ao que está sendo cantado 
    – Você sente emoção ou entende algo novo, só observando os corpos no palco

    Uma boa coreografia não rouba a cena — ela a completa.

    Por que tudo isso importa?

    No teatro musical, nada é por acaso. Tudo é pensado para servir à história: o figurino, a luz, a música, o silêncio… e, claro, o movimento.

    A coreografia dá intensidade. 
    A direção de movimento traz fluidez e verdade. 
    E juntas, elas fazem o espetáculo ganhar corpo — literalmente.

    Mesmo quando ninguém está cantando, o musical continua contando sua história. Com gestos, com respiração, com presença. Porque no teatro musical, o corpo também fala.

    Se você gosta de entender o que faz um espetáculo funcionar, comece a reparar nos movimentos além das coreografias. No deslocamento entre as cenas. No jeito como os personagens param no palco. Nos gestos pequenos, mas cheios de significado.

    Você vai ver que tem muita coisa acontecendo ali — e quase ninguém repara. Mas quem ama o teatro de verdade, aprende a ver.


    Na “prática”…

    Hairspray, You Can’t Stop the Beat

    Na cena final de Hairspray Live!, com a música You Can’t Stop the Beat, tudo começa com a Tracy sozinha em papel protagonista. Aos poucos, outros personagens vão se juntando a ela, até que o palco inteiro se enche — em um movimento que espelha exatamente o que ela provoca na história: união, transformação e quebra da segregação. Os corpos acompanham essa virada. A dança é vibrante, marcada, cheia de energia, mas também cheia de intenção. Cada passo, cada aproximação, cada ocupação de espaço conta uma parte da narrativa. No fim, todos dançam juntos, lado a lado, e o movimento coletivo deixa claro, sem precisar dizer nada: algo mudou. A dança e a movimentação em cena não estão ali só para entreter — elas contam a história com o corpo, e fazem isso de forma direta, emocionante e impossível de ignorar.


    [Inglês] Coreógrafo de Hamilton

    PS: YouTube tem a opção de legendas automáticas

    Trecho de Hamilton


  • Mamma Mia

    Mamma Mia esgotou antes de eu comprar ingressos, por isso vamos testar esse formato e fazer uma review colaborativa. Começando com um muito obrigada a todo mundo que me enviou feedbacks!!

    Vamos lá!

    É uma história que tem uma carga afetiva e músicas icônicas, o que facilita o envolvimento com a produção. Muita gente adorou 💕, mas nem todo mundo. Isso costuma acontecer quando a produção faz “o básico certo”, mas olhos mais treinados, ou fãs da história, conseguem pegar os tropeços e oportunidades perdidas.

    Muitos saíram encantados, elogiando a energia contagiante do elenco e destacando como o espetáculo é vibrante, mesmo para quem assiste de longe (balcão). Mas também houve quem esperasse mais, principalmente quem conhece bem a história ou tem olhar mais crítico. Um exemplo comentado foram as coreografias, que em certos momentos pareceram esvaziadas.

    Cenografia e figurinos são bonitos e cumprem seu papel, como o esperado de uma produção desse porte. Cenografia não é complexa, e parece ser uma área com oportunidades perdidas na produção. Visualmente, o musical não parece surpreender, mas também não decepciona.

    Um ponto que gerou opiniões divergentes foi o trabalho de versão, especialmente das canções. Enquanto algumas pessoas adoraram o resultado, outras sentiram que se perdeu parte do significado original. Houve comentários de que palavras não se encaixaram perfeitamente, tornando algumas canções difíceis de assimilar. Um ponto específico foi a perda de contexto da faixa “Chiquitita”, que, segundo relato, comprometeu o sentido de solidariedade e sororidade que a versão original transmite. Como também teve o feedback de que no geral “ideia e o sentimento foram mantidos”, o que eu tiro disso é que tem o aspecto natural da subjetividade de como cada um interpreta canções no geral.

    Em resumo, Mamma Mia desperta reações mistas: tem quem ache perfeito e se divirta muito, e tem quem se decepcione com alguns aspectos da execução. Minha sugestão é: se tiver a chance de assistir, vá, mas sem criar grandes expectativas. Você provavelmente vai curtir a experiência, só não espere algo inesquecível.

  • Bare, Uma Pop Ópera

    Bare, uma Pop Ópera tem a alma do off-Broadway: rebelde, alternativa, com recursos limitados, mas compensando com entrega artística e autenticidade. É melhor do que eu esperava, mas definitivamente não é pra todo mundo.

    Com classificação etária de 16 anos, a produção trata de temas sensíveis como drogas, s&xo, álcool e religiosidade estão presentes de forma direta. A trama se desenrola dentro de uma escola católica e gira em torno de um casal gay enfrentando as tensões entre desejo, culpa e repressão. A religião é um personagem à parte, presente em quase todas as decisões e conflitos. É um roteiro forte, bem amarrado, que prende — mas não é pra todo mundo.

    O cenário é simples, mas funcional e criativo. Um grande cubo com rodinhas, que ao ser movido marca a mudança de ambiente. Dois outros elementos se alternam entre arquibancada e cama, reforçando a versatilidade do espaço. Nada de grandes efeitos ou sofisticação — tudo está ali para servir à história, e cumpre bem esse papel.

    Um ponto que merece destaque é o desenho de luz. Com um cenário minimalista, a iluminação assume protagonismo. E faz isso com competência: cada cena ganha camadas e intensidade com o uso da luz, que guia o olhar e dá o tom emocional do espetáculo.

    Os figurinos seguem a mesma lógica da produção: simples, mas bem pensados. A maior parte do elenco está em uniforme escolar, e mesmo com poucas trocas de roupa, a qualidade é visível. Um momento especial — a cena de “Nossa Senhora” com as backing vocals — mostra um cuidado em construir um figurino para quem vai usá-lo. Pode parecer algo óbvio, mas não é raro ver figurinos feitos para um corpo genérico, que acabam não vestindo bem. Aqui, dá pra perceber o cuidado em respeitar e valorizar cada corpo em cena.

    Bare, uma ópera pop, entrega uma experiência honesta e bem construída. Não é para todos, e nem tenta ser. Mas, se você estiver aberto a temas complexos e intensos, é uma produção que vale a pena conferir.

    Trecho da Produção

  • O Mágico di Ó

    O Mágico di Ó se destaca pelo seu texto envolvente, que explora o poder das palavras e homenageia o cordel. A produção é simples, mas bem executada, com uma direção impecável e um elenco talentoso.


    Boas produções sempre têm algo que chama a atenção—pode ser a complexidade vocal das canções, um cenário bem elaborado ou coreografias complexas. Em O Mágico di Ó, o grande destaque é o texto (ou livreto, ou a junção de letras e diálogos, como quiser chamar). Ele explora o poder das palavras e da linguagem, provocando emoções e divertindo. Ao mesmo tempo, faz uma bela homenagem ao cordel, esse belo pedaço da nossa cultura cultura tão rico quanto pouco lembrado.

    O Mágico di Ó é uma ótima opção para toda a família. Apesar de inspirado na história infantil, traz uma roupagem diferente que entretém as crianças e, ao mesmo tempo, oferece reflexões e diverte os adultos.

    O cenário, embora simples, cumpre bem seu papel, enquanto figurino e visagismo se destacam—sobretudo no uso da maquiagem que remete ao traço característico do cordel.

    A direção também merece menção: mesmo com recursos limitados de luz e um cenário enxuto, os artistas interpretam, cantam, movimentam elementos de cena e até tocam instrumentos, tudo de forma bem orquestrada e com propósito. É um trabalho que surpreende pela harmonia e pela forma como cada detalhe é pensado.

    Gostei tanto do texto que acabei levando o livro para casa. O elenco é incrível, a produção é simples, mas bem construída. Só vai e me agradece depois.

    Teaser da Produção

  • Uma Babá Quase Perfeita

    Uma Babá Quase Perfeita é o tipo de musical que aquece o coração e entrega um final que, embora não seja de conto de fadas, parece na medida certa. A premissa da história pode ser absurda, mas o roteiro trata de conflitos e dilemas comuns no dia a dia, o que facilita o envolvimento com a história.

    Normalmente não sou fã de textos adaptados, costumo ter a sensação de não ser tão natural quanto em obras originais em português. Não senti isso em Uma Babá Quase Perfeita. Acredito que seja o efeito combinado da produção não ter músicas icônicas super conhecidas, aliado a um ótimo trabalho de versão.

    A coreografia impressiona, muito bem construída e executada. Algumas cenas possuem um “caos” organizado que traduzem bem o clima do momento. Porém, na cena do lançamento da marca de roupa, embora seja divertida, me causou uma estranheza leve: a protagonista exibe uma habilidade de ballet que não condiz muito com a construção da personagem até ali. Só preciosismo, não impacta a história, mas me chamou atenção por não ser algo sugerido na narrativa.

    Um grande destaque é o cenário, que apresenta diversos ambientes cuidadosamente planejados, cada um repleto de detalhes que enriquecem a narrativa.

    Na sessão que assisti a iluminação não estava totalmente afinada…os focos pareciam um pouco fora de lugar em algumas cenas. Nada que estrague a experiência, mas reduziu um pouco do impacto visual.

    Os figurinos seguem uma proposta bem cotidiana, quase imperceptível de tão bem resolvidos. Há inúmeras trocas de roupas, e sempre muito interessantes apesar de serem “comuns”.

    No geral, Uma Babá Quase Perfeita diverte, emociona e desperta aquela nostalgia gostosa do filme que todo mundo ama. Super recomendo e está na minha listinha de “Top em Cartaz”.

    Número da Adaptação do Brasil

    Número da Versão da Broadway

  • Wicked

    Wicked é cativante. Possui uma narrativa envolvente, contada através de uma produção grandiosa. O cenário impressiona por sua complexidade e riqueza de detalhes. Entre coreografias dinâmicas, figurinos bem construídos e um elenco maravilhoso… É uma parada obrigatória para todo amante de musicais.


    Impossível não amar Wicked. A história é linda, atemporal, divertida e ainda faz você refletir. Em cartaz há mais de 20 anos na Broadway, chega agora à sua terceira temporada no Brasil, a produção continua evoluindo e conquistando o público.

    A produção é rica em detalhes: é perceptível como tudo foi cuidadosamente planejado e executado. Geralmente, as produções sempre tem algum elemento onde apostam em algo “simples, mas bem feito”. Já em Wicked, tudo é complexo, dinâmico e perfeitamente alinhado, transformando o musical em uma experiência única.

    A única parte que me desagradou foi a projeção do Mágico. Em outras produções, ele surge como uma cabeça gigante que transmite aquela sensação de algo mecânico e pouco natural. Nesta versão, o Mágico é projetado em tons alaranjados sobre uma estrutura cinza arredondada, por algum motivo me lembrou o Zordon de “Power Rangers”. Foi a única escolha de cenário que achei discutível, especialmente por ser um elemento tão central (mesmo aparecendo por pouco tempo). Em contrapartida, vale destacar como o palco traz duas grandes estruturas laterais para representar Shiz e Oz, tudo muito bem construído, contribuindo para a grandiosidade da montagem.

    No geral, Wicked está maravilhoso e imperdível pra qualquer fã de musical. Especialmente, é uma produção que vale a pena não apenas ser vista, mas ser apreciada. Os cristais iluminados na árvore, os detalhes do cenário de Oz, a estampa do uniforme de Shiz, o dinamismo da coreografia. A temporada é curta para uma produção desse porte, então vale a pena garantir seus ingressos antes que acabem.

    Para quem adquiriu o ingresso esmeralda, há um tour guiado de cerca de 10 minutos pelo palco antes do início do espetáculo. São grupos pequenos e a experiência permite ver de perto detalhes do cenário que não são visíveis da plateia, mas não é permitido fotografar ou filmar.

    Logística: chegue cedo para evitar transtornos. Tem fila pra tudo, a maior segredo a do programa de fidelidade. Ingresso esmeralda é “liberado” após o tour, ou seja, se você estiver no fim da fila esmeralda, terá pouco tempo no saguão antes do espetáculo. Se planeje!!

  • Uma Coisa Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum

    Com letras de Stephen Sondheim, a montagem traz o clássico de 1962 com humor leve e timing perfeito do elenco. O cenário fixo ganha vida graças a movimentações ágeis e iluminação moderna. Ideal para quem busca uma experiência de teatro musical descontraída.


    Uma coisa engraçada aconteceu a caminho do fórum é uma adaptação de uma produção de 1962, com letras de Stephen Sondheim, um dos grandes nomes do teatro musical. Algumas obras resistem ao teste do tempo, não tenho certeza se essa é uma delas.

    A peça traz aquele humor fácil, uma mistura de Trapalhões com Sessão da Tarde, cheia de piadas com trocadilhos e perseguições onde cada personagem corre para um lado. Mesmo que você já tenha visto esse tipo de cena mil vezes (e rido em todas), a plateia se diverte do início ao fim. É interessante notar como a luz da plateia permanece parcialmente acesa, o que parece estimular ainda mais essa atmosfera de riso contagiante. Essa energia é mantida graças a um elenco que domina o timing de comédia.

    O cenário é fixo, formado por três casas caricatas, inspiradas na Roma Antiga. Apesar disso, ele ganha dinamismo com um desenho de luz muito bem elaborado, que em determinados momentos recorre a neons para criar um ar moderno.

    A direção de movimento merece destaque: com tanta gente entrando e saindo de cena, fica claro que é tudo muito bem pensado. Tem pouca coreografia, mas muito bem construída e executada.

    Agora o mas…

    A história se passa na Roma antiga: um jovem se apaixona por uma meretriz que foi vendida a um capitão do exército. Pseudolus, escravo do rapaz (interpretado por Falabella), promete ajudá-lo a ficar com ela, em troca da própria liberdade.  O aspecto cômico vem das confusões e mentiras criadas por Pseudolus em busca de seu objetivo. Embora a plateia se divirta bastante, se você não se sente à vontade vendo esse tema abordado de forma cômica, essa produção não é pra você.

    Costumo não recomendar produções que tragam algum tipo de ressalva. Fica a dica, é um clássico, se o enredo não te incomodar, acredito que você vá se divertir bastante.

    Número da Produção

  • Memórias Póstumas de Brás Cubas

    Uma excelente oportunidade de redescobrir um clássico literário brasileiro de forma leve e dinâmica. Um monólogo bem construído, capaz de prender a atenção pela atuação dinâmica e criativa. O cenário minimalista, mas engenhoso, demonstra como criatividade não depende de grandes recursos. Uma experiência essencial para quem deseja mergulhar em um clássico brasileiro.


    Algumas experiências são necessárias, e Memórias Póstumas de Brás Cubas se encaixa nessa categoria. É uma excelente oportunidade para redescobrir esse clássico da nossa literatura sob um novo olhar. Vamos ser sinceros: nem sempre valorizamos esse tipo de obra como mereceria, mas esse espetáculo facilita bastante.

    É um monólogo, com todos os desafios que o modelo traz. É muito bem executado e dinâmico, com um ator que consegue ocupar bem o palco e, de vez em quando, caminha entre o público, aproximando ainda mais quem assiste da história.

    O cenário é simples e criativo: um banco em forma de caixão acompanhado de poucos elementos cênicos. O fundo merece destaque, pois traz uma pintura representando o Rio de Janeiro coberta por um tecido escuro, que fica mais ou menos visível dependendo da iluminação. É uma excelente demonstração de que qualidade não vem do complexo e caro, mas da habilidade do time criativo.

    O texto é fiel ao livro, porém com músicas especialmente compostas para a peça. Se você prestar atenção, conseguirá perceber uma diferença sutil entre o estilo da narrativa e as letras das canções – que, aliás, são bem escritas. Um ponto interessante é que, embora seja um musical, ele não possui tantas canções quanto você pode imaginar. Por um lado, fica uma sensação de que poderia ter um pouco mais de música; por outro, é bacana notar a preocupação em manter a fidelidade ao texto original.

    O espetáculo tem o tempo certo pra não chegar a ser cansativo, mas sei que monólogo não agrada todo mundo.

    A peça já teve várias temporadas ao longo dos anos, o que naturalmente comprova seu valor. Por outro lado, parece ter mudado pouco desde que começou (pelo menos pelo que dá para perceber nas fotos e vídeos mais antigos). Em meio a tantas novidades no teatro atual—com cenários elaborados e surpresas no palco—é bom saber de antemão que esta montagem segue um caminho mais simples e “tradicional”.

    De qualquer forma, é um espetáculo que merece ser visto, principalmente se você estiver aberto ao principal objetivo: apreciar uma adaptação criativa e bem realizada de um texto clássico da literatura brasileira.

  • Rocky, o Musical

    A produção de Rocky encanta pela qualidade da performance do elenco e lugar de destaque da orquestra. O cenário, no geral minimalista, surpreende ao se transformar em um ringue. A cena da luta é um momento de grande impacto, realçando a criatividade e aforça da produção.


    Antes de Rocky, vale mencionar que eu não gosto do formato imersivo do 033 Rooftop. Dividir uma mesa pequena com desconhecidos, além de desconfortável, é meio constrangedor. A proximidade com o elenco é maravilhosa, mas a logística da platéia não me agrada. Agora vamos ao que interessa!

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    Rocky é uma história conhecida e amada, interpretada por um elenco super talentoso. Ou seja, é bom, mas confesso que é diferente do que eu esperava.

    A orquestra fica em evidência no palco!!! Esse é sempre um ponto positivo, pois acompanhar os músicos tocando ao vivo traz uma sensação única de conexão com o espetáculo.

    O formato naturalmente limita o espaço para cenários grandiosos, mas Rocky adotou um minimalismo quase “extremo”, contando com um armário, o ringue e duas cadeiras. Para complementar, existem três telões que enriquecem as cenas.

    Os telões têm usos diferentes: às vezes são só pano de fundo (como a chuva, ou ambientação) e, em outros momentos, são parte central da história, como a transmissão pela TV de entrevistas com o Rocky.

    Minha estratégia de sentar na frente do palco não deu muito certo, pois não conseguia ver diretamente nenhum dos telões, precisava alternar o olhar entre o palco e as telas. Cadeiras laterais ou diagonais, que permitem ver palco e telões ao mesmo tempo, talvez sejam mais interessantes.

    A cena da luta em si é fantástica. A montagem explora o espaço com criatividade e o ringue ganha vida de um jeito que realmente empolga. Essa parte gera aquela sensação gostosa de ansiedade e envolvimento.

    Um ponto curioso é que no decorrer da produção você se acostuma com o formato mais lúdico gerado pela simplicidade do cenário. Quando chega na cena da luta, o fato de montar o ringue em si já traz um grande impacto. Que aumenta muito a intensidade da cena.

    Ponto interessante: muitas famílias assistindo juntas, pais com filhos curtindo bastante. Achei legal esse clima de diferentes gerações no público.

    No fim das contas, tenha em mente que a experiência é muito sobre a excelente performance do elenco. Se você tiver oportunidade, vale a pena conferir.

  • Meninas Malvadas

    Meninas Malvadas supera as expectativas em todos os aspectos!! Os cenários são inovadores e o uso de telões acrescenta ainda mais energia à trama. Cada personagem brilha sem cair em estereótipos, trazendo muito humor e dinamismo ao palco. É uma produção moderna que mantém a essência divertida e crítica de Tina Fey. É uma experiência obrigatória para fãs de musicais e de Meninas Malvadas!!!


    Meninas Malvadas é uma das melhores adaptações que já vi. Isso é resultado de diversos fatores, mas destaque para cenário e elenco. Foi a primeira vez em que não vi o enorme espaço do Teatro Santander “engolir” uma produção de alguma forma.

    Tudo no espetáculo está muito bem  feito, mas o que me chamou mais atenção é o cenário. Cada elemento foi construído com cuidado, e a movimentação dos elementos no palco aumenta o efeito dramático das cenas. Uma novidade interessante em Meninas Malvadas é o uso do videos como parte integral da cenografia. O fundo do palco é uma enorme tela de alta resolução, criando uma dinâmica diferente e envolvente. E, já que o texto aborda também o universo das redes sociais, a projeção dos vídeos traz uma camada adicional que complementa as cenas no mundo “real”, permitindo mostrar claramente os impactos dos acontecimentos no ambiente digital.

    Os vídeos são muito bem desenvolvidos, destacando-se em diferentes momentos da peça: da casa ao colégio, incluindo ainda animações em cartoon ou vídeos com estilos próprios. Tudo isso contribui diretamente para dar mais contexto e profundidade à narrativa. (Adicionei uma imagem extra com foco no cenário)

    Confesso que esperava uma coreografia mais elaborada, mas, em compensação, a direção de movimento geral surpreende. Tanto o elenco quanto os elementos cênicos se encaixam perfeitamente, tudo no timing certo.

    O elenco impressiona pela diversidade e pela qualidade de interpretação. Dá realmente para sentir o ambiente de um colégio ganhando vida no palco. Para quem ama o filme original de Meninas Malvadas (e especialmente do filme musical de 2024), essa montagem se mostra fiel ao humor característico de Tina Fey e traz essa assinatura para o público brasileiro.

    Vale destacar também a condução impecável da direção. É perceptível o quanto a produção — com todas as exigências de uma obra licenciada e a responsabilidade de trabalhar em um time grande de criativos — conseguiu alcançar uma sincronia rara. Coreografia, figurino, cenografia desenho de luz e demais elementos se fundem sem que você perceba onde termina um e começa o outro. Super recomendo!

    Número do Musical