Autor: Palco em Pauta

  • Wicked

    Wicked é cativante. Possui uma narrativa envolvente, contada através de uma produção grandiosa. O cenário impressiona por sua complexidade e riqueza de detalhes. Entre coreografias dinâmicas, figurinos bem construídos e um elenco maravilhoso… É uma parada obrigatória para todo amante de musicais.


    Impossível não amar Wicked. A história é linda, atemporal, divertida e ainda faz você refletir. Em cartaz há mais de 20 anos na Broadway, chega agora à sua terceira temporada no Brasil, a produção continua evoluindo e conquistando o público.

    A produção é rica em detalhes: é perceptível como tudo foi cuidadosamente planejado e executado. Geralmente, as produções sempre tem algum elemento onde apostam em algo “simples, mas bem feito”. Já em Wicked, tudo é complexo, dinâmico e perfeitamente alinhado, transformando o musical em uma experiência única.

    A única parte que me desagradou foi a projeção do Mágico. Em outras produções, ele surge como uma cabeça gigante que transmite aquela sensação de algo mecânico e pouco natural. Nesta versão, o Mágico é projetado em tons alaranjados sobre uma estrutura cinza arredondada, por algum motivo me lembrou o Zordon de “Power Rangers”. Foi a única escolha de cenário que achei discutível, especialmente por ser um elemento tão central (mesmo aparecendo por pouco tempo). Em contrapartida, vale destacar como o palco traz duas grandes estruturas laterais para representar Shiz e Oz, tudo muito bem construído, contribuindo para a grandiosidade da montagem.

    No geral, Wicked está maravilhoso e imperdível pra qualquer fã de musical. Especialmente, é uma produção que vale a pena não apenas ser vista, mas ser apreciada. Os cristais iluminados na árvore, os detalhes do cenário de Oz, a estampa do uniforme de Shiz, o dinamismo da coreografia. A temporada é curta para uma produção desse porte, então vale a pena garantir seus ingressos antes que acabem.

    Para quem adquiriu o ingresso esmeralda, há um tour guiado de cerca de 10 minutos pelo palco antes do início do espetáculo. São grupos pequenos e a experiência permite ver de perto detalhes do cenário que não são visíveis da plateia, mas não é permitido fotografar ou filmar.

    Logística: chegue cedo para evitar transtornos. Tem fila pra tudo, a maior segredo a do programa de fidelidade. Ingresso esmeralda é “liberado” após o tour, ou seja, se você estiver no fim da fila esmeralda, terá pouco tempo no saguão antes do espetáculo. Se planeje!!

  • Uma Coisa Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum

    Com letras de Stephen Sondheim, a montagem traz o clássico de 1962 com humor leve e timing perfeito do elenco. O cenário fixo ganha vida graças a movimentações ágeis e iluminação moderna. Ideal para quem busca uma experiência de teatro musical descontraída.


    Uma coisa engraçada aconteceu a caminho do fórum é uma adaptação de uma produção de 1962, com letras de Stephen Sondheim, um dos grandes nomes do teatro musical. Algumas obras resistem ao teste do tempo, não tenho certeza se essa é uma delas.

    A peça traz aquele humor fácil, uma mistura de Trapalhões com Sessão da Tarde, cheia de piadas com trocadilhos e perseguições onde cada personagem corre para um lado. Mesmo que você já tenha visto esse tipo de cena mil vezes (e rido em todas), a plateia se diverte do início ao fim. É interessante notar como a luz da plateia permanece parcialmente acesa, o que parece estimular ainda mais essa atmosfera de riso contagiante. Essa energia é mantida graças a um elenco que domina o timing de comédia.

    O cenário é fixo, formado por três casas caricatas, inspiradas na Roma Antiga. Apesar disso, ele ganha dinamismo com um desenho de luz muito bem elaborado, que em determinados momentos recorre a neons para criar um ar moderno.

    A direção de movimento merece destaque: com tanta gente entrando e saindo de cena, fica claro que é tudo muito bem pensado. Tem pouca coreografia, mas muito bem construída e executada.

    Agora o mas…

    A história se passa na Roma antiga: um jovem se apaixona por uma meretriz que foi vendida a um capitão do exército. Pseudolus, escravo do rapaz (interpretado por Falabella), promete ajudá-lo a ficar com ela, em troca da própria liberdade.  O aspecto cômico vem das confusões e mentiras criadas por Pseudolus em busca de seu objetivo. Embora a plateia se divirta bastante, se você não se sente à vontade vendo esse tema abordado de forma cômica, essa produção não é pra você.

    Costumo não recomendar produções que tragam algum tipo de ressalva. Fica a dica, é um clássico, se o enredo não te incomodar, acredito que você vá se divertir bastante.

    Número da Produção

  • Memórias Póstumas de Brás Cubas

    Uma excelente oportunidade de redescobrir um clássico literário brasileiro de forma leve e dinâmica. Um monólogo bem construído, capaz de prender a atenção pela atuação dinâmica e criativa. O cenário minimalista, mas engenhoso, demonstra como criatividade não depende de grandes recursos. Uma experiência essencial para quem deseja mergulhar em um clássico brasileiro.


    Algumas experiências são necessárias, e Memórias Póstumas de Brás Cubas se encaixa nessa categoria. É uma excelente oportunidade para redescobrir esse clássico da nossa literatura sob um novo olhar. Vamos ser sinceros: nem sempre valorizamos esse tipo de obra como mereceria, mas esse espetáculo facilita bastante.

    É um monólogo, com todos os desafios que o modelo traz. É muito bem executado e dinâmico, com um ator que consegue ocupar bem o palco e, de vez em quando, caminha entre o público, aproximando ainda mais quem assiste da história.

    O cenário é simples e criativo: um banco em forma de caixão acompanhado de poucos elementos cênicos. O fundo merece destaque, pois traz uma pintura representando o Rio de Janeiro coberta por um tecido escuro, que fica mais ou menos visível dependendo da iluminação. É uma excelente demonstração de que qualidade não vem do complexo e caro, mas da habilidade do time criativo.

    O texto é fiel ao livro, porém com músicas especialmente compostas para a peça. Se você prestar atenção, conseguirá perceber uma diferença sutil entre o estilo da narrativa e as letras das canções – que, aliás, são bem escritas. Um ponto interessante é que, embora seja um musical, ele não possui tantas canções quanto você pode imaginar. Por um lado, fica uma sensação de que poderia ter um pouco mais de música; por outro, é bacana notar a preocupação em manter a fidelidade ao texto original.

    O espetáculo tem o tempo certo pra não chegar a ser cansativo, mas sei que monólogo não agrada todo mundo.

    A peça já teve várias temporadas ao longo dos anos, o que naturalmente comprova seu valor. Por outro lado, parece ter mudado pouco desde que começou (pelo menos pelo que dá para perceber nas fotos e vídeos mais antigos). Em meio a tantas novidades no teatro atual—com cenários elaborados e surpresas no palco—é bom saber de antemão que esta montagem segue um caminho mais simples e “tradicional”.

    De qualquer forma, é um espetáculo que merece ser visto, principalmente se você estiver aberto ao principal objetivo: apreciar uma adaptação criativa e bem realizada de um texto clássico da literatura brasileira.

  • Rocky, o Musical

    A produção de Rocky encanta pela qualidade da performance do elenco e lugar de destaque da orquestra. O cenário, no geral minimalista, surpreende ao se transformar em um ringue. A cena da luta é um momento de grande impacto, realçando a criatividade e aforça da produção.


    Antes de Rocky, vale mencionar que eu não gosto do formato imersivo do 033 Rooftop. Dividir uma mesa pequena com desconhecidos, além de desconfortável, é meio constrangedor. A proximidade com o elenco é maravilhosa, mas a logística da platéia não me agrada. Agora vamos ao que interessa!

    —-

    Rocky é uma história conhecida e amada, interpretada por um elenco super talentoso. Ou seja, é bom, mas confesso que é diferente do que eu esperava.

    A orquestra fica em evidência no palco!!! Esse é sempre um ponto positivo, pois acompanhar os músicos tocando ao vivo traz uma sensação única de conexão com o espetáculo.

    O formato naturalmente limita o espaço para cenários grandiosos, mas Rocky adotou um minimalismo quase “extremo”, contando com um armário, o ringue e duas cadeiras. Para complementar, existem três telões que enriquecem as cenas.

    Os telões têm usos diferentes: às vezes são só pano de fundo (como a chuva, ou ambientação) e, em outros momentos, são parte central da história, como a transmissão pela TV de entrevistas com o Rocky.

    Minha estratégia de sentar na frente do palco não deu muito certo, pois não conseguia ver diretamente nenhum dos telões, precisava alternar o olhar entre o palco e as telas. Cadeiras laterais ou diagonais, que permitem ver palco e telões ao mesmo tempo, talvez sejam mais interessantes.

    A cena da luta em si é fantástica. A montagem explora o espaço com criatividade e o ringue ganha vida de um jeito que realmente empolga. Essa parte gera aquela sensação gostosa de ansiedade e envolvimento.

    Um ponto curioso é que no decorrer da produção você se acostuma com o formato mais lúdico gerado pela simplicidade do cenário. Quando chega na cena da luta, o fato de montar o ringue em si já traz um grande impacto. Que aumenta muito a intensidade da cena.

    Ponto interessante: muitas famílias assistindo juntas, pais com filhos curtindo bastante. Achei legal esse clima de diferentes gerações no público.

    No fim das contas, tenha em mente que a experiência é muito sobre a excelente performance do elenco. Se você tiver oportunidade, vale a pena conferir.

  • Meninas Malvadas

    Meninas Malvadas supera as expectativas em todos os aspectos!! Os cenários são inovadores e o uso de telões acrescenta ainda mais energia à trama. Cada personagem brilha sem cair em estereótipos, trazendo muito humor e dinamismo ao palco. É uma produção moderna que mantém a essência divertida e crítica de Tina Fey. É uma experiência obrigatória para fãs de musicais e de Meninas Malvadas!!!


    Meninas Malvadas é uma das melhores adaptações que já vi. Isso é resultado de diversos fatores, mas destaque para cenário e elenco. Foi a primeira vez em que não vi o enorme espaço do Teatro Santander “engolir” uma produção de alguma forma.

    Tudo no espetáculo está muito bem  feito, mas o que me chamou mais atenção é o cenário. Cada elemento foi construído com cuidado, e a movimentação dos elementos no palco aumenta o efeito dramático das cenas. Uma novidade interessante em Meninas Malvadas é o uso do videos como parte integral da cenografia. O fundo do palco é uma enorme tela de alta resolução, criando uma dinâmica diferente e envolvente. E, já que o texto aborda também o universo das redes sociais, a projeção dos vídeos traz uma camada adicional que complementa as cenas no mundo “real”, permitindo mostrar claramente os impactos dos acontecimentos no ambiente digital.

    Os vídeos são muito bem desenvolvidos, destacando-se em diferentes momentos da peça: da casa ao colégio, incluindo ainda animações em cartoon ou vídeos com estilos próprios. Tudo isso contribui diretamente para dar mais contexto e profundidade à narrativa. (Adicionei uma imagem extra com foco no cenário)

    Confesso que esperava uma coreografia mais elaborada, mas, em compensação, a direção de movimento geral surpreende. Tanto o elenco quanto os elementos cênicos se encaixam perfeitamente, tudo no timing certo.

    O elenco impressiona pela diversidade e pela qualidade de interpretação. Dá realmente para sentir o ambiente de um colégio ganhando vida no palco. Para quem ama o filme original de Meninas Malvadas (e especialmente do filme musical de 2024), essa montagem se mostra fiel ao humor característico de Tina Fey e traz essa assinatura para o público brasileiro.

    Vale destacar também a condução impecável da direção. É perceptível o quanto a produção — com todas as exigências de uma obra licenciada e a responsabilidade de trabalhar em um time grande de criativos — conseguiu alcançar uma sincronia rara. Coreografia, figurino, cenografia desenho de luz e demais elementos se fundem sem que você perceba onde termina um e começa o outro. Super recomendo!

    Número do Musical

  • Tom Jobim, Musical


    A produção encanta visualmente com um cenário que remete ao interior de um piano e silhuetas do Rio de Janeiro. O musical brilha pela integração cuidadosa do espírito da bossa nova em todos os detalhes do musical. Além disso, conta com uma coreografia fluida e figurinos bem construídos que adicionam dinamismo e contexto às cenas.

    Assistir Tom Jobim Musical é desfrutar de uma homenagem sincera e bem construída a um grande ícone da música brasileira.


    Fui assistir a Tom Jobim com um viés: queria muito gostar. É bom, mas não é “o que eu esperava”, e expectativa gera frustração. Ainda assim, recomendo a experiência… É uma excelente oportunidade de celebrar a história de um dos grandes nomes da música brasileira.

    Tom Jobim Musical mostra uma sofisticação discreta, criando uma atmosfera que verdadeiramente reflete a essência da bossa nova. A produção é visualmente atraente e tem vocais belíssimos, ou seja, no geral é uma experiência muito agradável.

    Coreografia está irretocável: interessante e bem executada. Sem mais.

    O figurino merece destaque pelo cuidado como retrata os personagens e atenção aos detalhes e contexto da época. Chama atenção especialmente o trabalho feito com o figurino do ensemble. Ele adiciona fluidez e movimento às cenas, enriquecendo visualmente toda a experiência do espetáculo.

    O Cenário é lindo. Ele possui estruturas de madeira que representam a parte interna do piano, enquanto criam a silhueta da cidade do Rio de Janeiro. Tem uma vírgula: um círculo branco que é usado em projeções de algumas cenas. Confesso que achei desnecessário. As projeções cortam a sutileza das cenas com imagens realistas que quebram a elegância e delicadeza da cena sem adicionar um contexto muito relevante.

    Montar um musical sobre músicos é um super desafio, já que as canções originais não foram feitas pensando em uma narrativa teatral. Integrar as músicas de Tom Jobim para contar sua história exige cuidado para respeitar o legado artístico e manter o ritmo narrativo. Dito isso, o roteiro não me envolveu completamente: o primeiro ato, embora bonito, é um pouco monótono. O segundo ato ganha ritmo e é bem mais interessante. Destaque especial para a cena do divórcio, muito bem construída e que mostra claramente como música e narrativa podem caminhar juntas para construir algo único.

    No fim, saí do teatro com a sensação de ter vivido uma experiência agradável. Não é a montagem mais impactante que já vi, mas tem muitos méritos e faz jus à grandiosidade de Tom Jobim.

    Recomendo. 😉

    Tom Jobim Teaser

    Cenografia de Tom Jobim Musical


  • Tipos de Musical

    “Tipos de musical”… Parecia algo óbvio e simples, mas entrei em uma espiral sem fim de “por período”, “por estilo”, “deveria incluir opera?”, “tipos não incluem versões, mas é uma distinção importante”. Então vamos fazer um apanhado geral, mas que começar a dar um “norte”, e traz luz a alguns aspectos interessantes a serem observados.


    [Alguns] Tipos de Musical 🎭


    Book Musicals (Musical de livreto/tradicional)

    Musicais que seguem uma estrutura narrativa bem definida, onde as músicas e danças são integradas ao enredo para desenvolver a história e os personagens.

    – Estrutura narrativa linear e coesa, semelhante a uma peça de teatro tradicional. 
    – Canções e números musicais impulsionam o enredo e aprofundam os personagens. 
    – Geralmente incluem diálogos falados entre as músicas. 
    – São a base do musical integrado, onde todos os elementos artísticos servem à história. 

    Exemplos: Les Misérables, Wicked, Dear Evan Hansen


    Jukebox Musical

    Aqui, as músicas já existem e são famosas antes mesmo do espetáculo ser criado. Geralmente, são sucessos de uma banda ou artista, e o enredo é desenvolvido para encaixar essas músicas.

    – Trilha sonora composta por músicas previamente conhecidas.
    – Pode seguir uma narrativa original ou contar a história real de um artista/grupo.
    – Apelo nostálgico, muitas vezes voltado para fãs do repertório musical.
    – Grande foco na performance das músicas, podendo priorizar hits sobre a trama.

    Exemplos: Mamma Mia! (ABBA), We Will Rock You (Queen) e Moulin Rouge!.

    Moulin Rouge, act 2 scene with Bad Romance from Lady Gaga

    Sung-Through Musical (Musical Integralmente Cantado)

    Diferente dos musicais tradicionais, onde há alternância entre falas e músicas, nos sung-through musicals quase todo o enredo é contado por meio das canções. O diálogo falado é mínimo ou inexistente, tornando a música o principal meio de narração e desenvolvimento dos personagens.

    – Pouca ou nenhuma fala, com a narrativa construída exclusivamente através da música.
    – Estrutura próxima à ópera, mas com estilos variados, incluindo pop, rock e hip-hop.
    – Canções interligadas, muitas vezes recorrentes ao longo da trama.
    – Maior fluidez narrativa, sem pausas abruptas para diálogos convencionais.

    Exemplos: Les Miserables, Evita, Hamilton

    Hamilton (disponível no Disney+)

    Musical Conceitual

    Neste tipo de musical, a história pode ser mais abstrata ou não seguir uma narrativa linear. Muitas vezes, o espetáculo explora temas ou conceitos específicos por meio da música e da encenação.

    – A história pode ser não-linear ou fragmentada, explorando diferentes perspectivas.
    – Muitas vezes, a experiência sensorial (música, dança, cenário) é tão importante quanto a trama.
    – Pode se concentrar em temas universais, metáforas ou reflexões filosóficas.
    – Costuma desafiar o formato tradicional dos book musicals, inovando na estrutura.
    Exemplos: Cats, Company e A Chorus Line.


    Highlight

    Golden Age (Era de Ouro)

    Musicais criados entre 1940s–1960s. Período em que o musical integrado se consolidou, com canções, dança e enredo trabalhando juntos para contar a história. Esse formato foi popularizado por criadores icônicos como Rodgers & Hammerstein, Lerner & Loewe e Leonard Bernstein, que elevaram o gênero com narrativas envolventes e músicas sofisticadas. 

    – Histórias românticas, heroicas ou inspiradoras, muitas vezes com mensagens otimistas. 
    – Músicas orquestradas, ricas em melodia e harmonias tradicionais. 
    – Letras que impulsionam o enredo e aprofundam os personagens. 
    – Produções clássicas e marcantes que definiram o padrão do teatro musical modern

    Oklahoma!, My Fair Lady, West Side Story, A Noviça Rebelde, Guys and Dolls, Kiss me Kate, Funny Girl

    Funny Girl (Golden Age)


    De forma complementar, no Brasil os musicais também podem ser classificados de acordo com sua origem. Podemos diferenciar entre versões traduzidas de musicais estrangeiros e musicais originais nacionais:


    Musicais Versionados

    São espetáculos originalmente criados no exterior que foram traduzidos e adaptados para o Brasil, mantendo as músicas, o enredo e o estilo da produção original. 

    – Tradução e adaptação das letras e do roteiro para o português. 
    – Produções licenciadas oficialmente, respeitando os direitos autorais. 
    – Algumas adaptações podem incluir referências culturais brasileiras para melhor conexão com o público. 
    – Montagens seguem o padrão técnico e artístico das produções internacionais. 
    Exemplos: Wicked, Meninas Malvadas, Mamma Mia!, o Rei Leão.

    Tarsila, a Brasileira (produção original nacional)

    Musicais Originais Nacionais

    São espetáculos criados e desenvolvidos no Brasil, com roteiro, músicas e encenação originais. Esses musicais podem explorar temas brasileiros ou universais, muitas vezes refletindo a cultura e a identidade nacional.

    – Enredo e músicas compostos originalmente em português. 
    – Elementos culturais brasileiros, como ritmos nacionais (samba, bossa nova, MPB, funk, sertanejo). 
    – Podem ser inspirados em histórias reais, figuras icônicas ou temas contemporâneos. 
    – Alguns se tornam sucessos e são exportados para outros países. 

    Exemplos: Ópera do Malandro (Chico Buarque), Elis, A Musical, Tarsila, Dom Casmurro, Martinho, Donatello.

    Uma coisa interessante, é que normalmente musicais Broadway/West End tem uma estrutura quase que fixa. Aquele formato que comercialmente funciona muito bem, e que as versões precisam seguir quase a risca. Musicais nacionais tendem a ter duas coisas a seu favor:
    – Podem explorar novos caminhos na produção. Normalmente vemos uma exploração maior de alternativas de cenários, caracterização dos personagens e construção de cenas. Pra ser justo, muitas vezes isso é quase forçado por restrições de orçamento, mas muitas vezes tem resultados maravilhosos.
    – Possuem o idioma a seu favor. Em uma adaptação o texto já está escrito, e ele precisa seguir a sonoridade da música já construída. Versionistas precisam buscar formas não só de traduzir, mas de assegurar que mesmo sendo um idioma muito diferente do original, a emoção e mensagem da música são transmitidas. Produções originais conseguem explorar mais a fundo o idioma, pois as canções já são construídas em português.

    Martinho, Coração de Rei. Musical original brasileiro (também um jukebox por usar músicas do Martinho)

    Dá pra encontrar diversas outras classificações como rock musical, musical de esquete (ou Revue Musical), adaptações, Disney-style, thriller, comédia, biográficos, operettas, e até ópera. Na prática, existem diversas formas de classificar musicais, entre períodos, tamanhos de produção… O principal é reconhecer que cada musical tem sua própria identidade e impacto, seja em sua forma inovadora, no modo como a música se integra à história ou na experiência que proporciona ao público. Mais do que encaixar um musical em uma definição rígida, o mais importante é apreciar sua arte e o que ele tem a dizer.

  • O que é um Musical??

    Produção em Pauta 🎭

    Nova série na página! Vamos explorar o universo dos musicais e entender o que faz cada produção brilhar. Aqui, o foco é em você, que assiste da plateia e ama absorver cada detalhe, mesmo sem ser um especialista. O objetivo é falar do básico que ajuda a perceber o que torna cada espetáculo tão especial – porque, no fim das contas, é a plateia que transforma o trabalho no palco em algo mágico. E para começar, nada mais essencial do que responder à pergunta: o que é um musical?

    Eu gosto muito da definição do Seth Rudetsky: 
    “A maioria dos musicais tem música, letras, um livreto (o roteiro ou libreto) e dança. E as músicas geralmente avançam o enredo. Você pode encontrar variações e exceções a essa regra, mas essa é a resposta básica. 
    Um musical combina cenas, músicas e danças para contar uma história.”

    Por que essa definição é tão interessante? Especialmente pelos termos “a maioria” e “geralmente”, que mostram como o formato dos musicais é flexível. Enquanto a essência do gênero se mantém, algumas produções ousam inovar, experimentando novas formas de conectar texto, música e performance.

    E aqui está a magia: em um musical, cada elemento conta uma história. Seja o texto, figurino, visagismo, coreografia, cenografia ou iluminação, tudo precisa se integrar para dar vida aos personagens e avançar a narrativa. É essa união que faz o musical ser tão impactante: cada detalhe, por menor que pareça, é pensado para nos transportar, emocionar e fazer a história ser inesquecível. 

    Um pensamento que sempre gosto de levar comigo é: “como isso contribui para avançar a história?”. Essa pergunta nos ajuda a enxergar o propósito de cada escolha artística. Seja uma música que revela emoções profundas, uma coreografia que simboliza tensões ou um figurino que define um personagem, tudo está ali por uma razão. 

    Nesta série vamos desvendar como cada elemento de um musical – da música ao figurino, da coreografia à iluminação – se conecta para criar algo único e inesquecível. Vamos juntos entender como esses detalhes transformam uma produção em uma experiência mágica para quem assiste.

  • Nossa História com Chico Buarque

    Um musical com força histórica e bela estética – Nossa História com Chico Buarque encanta com uma trama bem construída ao longo das gerações e uma iluminação marcante, mas sua transição entre cenas e músicas nem sempre flui de forma natural.


    Nossa História com Chico Buarque parte de uma premissa interessante: acompanha três gerações de uma mesma família, unidas por um romance central. A trama se desenrola desde o período da ditadura militar até 2022, abordando o contexto político e seus impactos naquele núcleo familiar. Esse recorte traz momentos bem construídos e relevância histórica, o que é um dos pontos fortes da produção. 

    O cenário é funcional e bem pensado, sem excessos. A banda ocupa uma estrutura ao fundo do palco, aparecendo mais como silhuetas do que como elementos visuais diretos. A luz, por outro lado, tem um papel fundamental na construção das cenas, criando atmosferas e transições marcantes. O desenho de luz é muito bom, resultando em belas composições visuais. No geral, a iluminação é mais interessante do que se vê na maioria dos musicais.

    O elenco tem excelentes artistas que se destacam ao interpretar diferentes personagens ao longo da linha do tempo. A caracterização é feita de forma sutil, principalmente através do figurino e mudanças simples, como prender ou soltar os cabelos. Além disso, há um revezamento entre os atores: uma mesma intérprete pode viver a mãe em um momento e, na geração seguinte, assumir o papel da filha, enquanto outra atriz se torna a mãe mais velha. Embora essa escolha tenha sua lógica artística, em alguns momentos pode gerar certa confusão, já que a ausência de uma caracterização mais marcante pode dificultar a diferenciação entre os personagens. 

    Agora o mas… A história é bem escrita e cativante, e as músicas são executadas com excelência. A combinação entre solos, duetos e coros deixa a trilha sonora rica e dinâmica. Mas… a transição entre cenas e músicas nem sempre flui de maneira natural. Há momentos em que a peça parece oscilar entre uma peça e um show, com alguns diálogos que parecem quase forçar a entrada de uma canção.

    O musical não entrou para a minha lista de recomendações. É uma boa produção, só não acredito que funciona pra todo mundo. Se você gosta de Chico Buarque, ou a premissa da história te chama a atenção, há grandes chances de você adorar o espetáculo. Se não, talvez não seja pra você.

    Imagens de Divulgação

    Matéria Sobre a Produção

  • Ray, Você não me conhece

    Ray é uma produção única que explora de forma criativa a vida e o legado de Ray Charles. A produção surpreende com um roteiro bem construído e interessante, e conta com um
    excelente elenco. O resultado é um espetáculo inovador que encanta pela simplicidade e originalidade.


    Ray é uma produção que foge do óbvio, com uma construção criativa e uma execução que surpreende pela autenticidade. Logo nos primeiros minutos, você percebe que está diante de algo diferente. Enquanto eu assistia, pensei: “Isso merecia uma taça de vinho para acompanhar.”

    Inspirada em um livro biográfico, a história começa dias após a morte de Ray Charles, com seu espírito visitando seu filho, que também se chama Ray. O palco se transforma em um espaço de troca entre eles e o público, com narrativas que revelam momentos marcantes da vida de Ray Charles e os desafios de suas relações familiares.

    A produção aposta em dois recursos que costumam fazer sucesso: a quebra da quarta parede e o teatro como tema dentro do próprio roteiro. Em diversos momentos, os atores conversam diretamente com a plateia, criando uma conexão espontânea. Antes mesmo do espetáculo começar, o elenco já está em cena, interagindo de maneira descontraída com quem vai chegando. Há até uma hora em que a cortina do fundo é levantada, revelando a Faria Lima.  A produção entra em cena pra mover os elementos cênicos. Tudo acontece de forma tão natural que dá um charme especial à experiência, fazendo com que ela se destaque pela autenticidade.

    O elenco é ótimo, os figurinos são pensados nos mínimos detalhes e, embora não haja coreografia, a direção de movimento dá ritmo e vida às cenas. Mas o verdadeiro destaque vai para o cenário: estruturas cinzas, que mais parecem enormes blocos de espuma, transformam-se em diferentes ambientes de forma quase simbólica. É simples e, ao mesmo tempo, genial.

    No lugar das tradicionais instalações para fotos, o hall apresenta uma pequena exposição de arte com obras cuidadosamente selecionadas sobre Ray Charles. É um detalhe inesperado que amplia a experiência.

    Pois bem, vá! Vale muito a pena, especialmente por ser diferente… Adoro quando vejo uma produção e penso “isso é novo”.



    Palco em Pauta

    calendário de musicais tem uma visão consolidada de todos os musicais em cartaz (SP-RJ).

    Playlist Palco em Pauta