Categoria: Produção em Pauta

  • Tipos de Musical

    “Tipos de musical”… Parecia algo óbvio e simples, mas entrei em uma espiral sem fim de “por período”, “por estilo”, “deveria incluir opera?”, “tipos não incluem versões, mas é uma distinção importante”. Então vamos fazer um apanhado geral, mas que começar a dar um “norte”, e traz luz a alguns aspectos interessantes a serem observados.


    [Alguns] Tipos de Musical 🎭


    Book Musicals (Musical de livreto/tradicional)

    Musicais que seguem uma estrutura narrativa bem definida, onde as músicas e danças são integradas ao enredo para desenvolver a história e os personagens.

    – Estrutura narrativa linear e coesa, semelhante a uma peça de teatro tradicional. 
    – Canções e números musicais impulsionam o enredo e aprofundam os personagens. 
    – Geralmente incluem diálogos falados entre as músicas. 
    – São a base do musical integrado, onde todos os elementos artísticos servem à história. 

    Exemplos: Les Misérables, Wicked, Dear Evan Hansen


    Jukebox Musical

    Aqui, as músicas já existem e são famosas antes mesmo do espetáculo ser criado. Geralmente, são sucessos de uma banda ou artista, e o enredo é desenvolvido para encaixar essas músicas.

    – Trilha sonora composta por músicas previamente conhecidas.
    – Pode seguir uma narrativa original ou contar a história real de um artista/grupo.
    – Apelo nostálgico, muitas vezes voltado para fãs do repertório musical.
    – Grande foco na performance das músicas, podendo priorizar hits sobre a trama.

    Exemplos: Mamma Mia! (ABBA), We Will Rock You (Queen) e Moulin Rouge!.

    Moulin Rouge, act 2 scene with Bad Romance from Lady Gaga

    Sung-Through Musical (Musical Integralmente Cantado)

    Diferente dos musicais tradicionais, onde há alternância entre falas e músicas, nos sung-through musicals quase todo o enredo é contado por meio das canções. O diálogo falado é mínimo ou inexistente, tornando a música o principal meio de narração e desenvolvimento dos personagens.

    – Pouca ou nenhuma fala, com a narrativa construída exclusivamente através da música.
    – Estrutura próxima à ópera, mas com estilos variados, incluindo pop, rock e hip-hop.
    – Canções interligadas, muitas vezes recorrentes ao longo da trama.
    – Maior fluidez narrativa, sem pausas abruptas para diálogos convencionais.

    Exemplos: Les Miserables, Evita, Hamilton

    Hamilton (disponível no Disney+)

    Musical Conceitual

    Neste tipo de musical, a história pode ser mais abstrata ou não seguir uma narrativa linear. Muitas vezes, o espetáculo explora temas ou conceitos específicos por meio da música e da encenação.

    – A história pode ser não-linear ou fragmentada, explorando diferentes perspectivas.
    – Muitas vezes, a experiência sensorial (música, dança, cenário) é tão importante quanto a trama.
    – Pode se concentrar em temas universais, metáforas ou reflexões filosóficas.
    – Costuma desafiar o formato tradicional dos book musicals, inovando na estrutura.
    Exemplos: Cats, Company e A Chorus Line.


    Highlight ✨

    Golden Age (Era de Ouro)

    Musicais criados entre 1940s–1960s. Período em que o musical integrado se consolidou, com canções, dança e enredo trabalhando juntos para contar a história. Esse formato foi popularizado por criadores icônicos como Rodgers & Hammerstein, Lerner & Loewe e Leonard Bernstein, que elevaram o gênero com narrativas envolventes e músicas sofisticadas. 

    – Histórias românticas, heroicas ou inspiradoras, muitas vezes com mensagens otimistas. 
    – Músicas orquestradas, ricas em melodia e harmonias tradicionais. 
    – Letras que impulsionam o enredo e aprofundam os personagens. 
    – Produções clássicas e marcantes que definiram o padrão do teatro musical modern

    Oklahoma!, My Fair Lady, West Side Story, A Noviça Rebelde, Guys and Dolls, Kiss me Kate, Funny Girl

    Funny Girl (Golden Age)


    De forma complementar, no Brasil os musicais também podem ser classificados de acordo com sua origem. Podemos diferenciar entre versões traduzidas de musicais estrangeiros e musicais originais nacionais:


    Musicais Versionados

    São espetáculos originalmente criados no exterior que foram traduzidos e adaptados para o Brasil, mantendo as músicas, o enredo e o estilo da produção original. 

    – Tradução e adaptação das letras e do roteiro para o português. 
    – Produções licenciadas oficialmente, respeitando os direitos autorais. 
    – Algumas adaptações podem incluir referências culturais brasileiras para melhor conexão com o público. 
    – Montagens seguem o padrão técnico e artístico das produções internacionais. 
    Exemplos: Wicked, Meninas Malvadas, Mamma Mia!, o Rei Leão.

    Tarsila, a Brasileira (produção original nacional)

    Musicais Originais Nacionais

    São espetáculos criados e desenvolvidos no Brasil, com roteiro, músicas e encenação originais. Esses musicais podem explorar temas brasileiros ou universais, muitas vezes refletindo a cultura e a identidade nacional.

    – Enredo e músicas compostos originalmente em português. 
    – Elementos culturais brasileiros, como ritmos nacionais (samba, bossa nova, MPB, funk, sertanejo). 
    – Podem ser inspirados em histórias reais, figuras icônicas ou temas contemporâneos. 
    – Alguns se tornam sucessos e são exportados para outros países. 

    Exemplos: Ópera do Malandro (Chico Buarque), Elis, A Musical, Tarsila, Dom Casmurro, Martinho, Donatello.

    Uma coisa interessante, é que normalmente musicais Broadway/West End tem uma estrutura quase que fixa. Aquele formato que comercialmente funciona muito bem, e que as versões precisam seguir quase a risca. Musicais nacionais tendem a ter duas coisas a seu favor:
    – Podem explorar novos caminhos na produção. Normalmente vemos uma exploração maior de alternativas de cenários, caracterização dos personagens e construção de cenas. Pra ser justo, muitas vezes isso é quase forçado por restrições de orçamento, mas muitas vezes tem resultados maravilhosos.
    – Possuem o idioma a seu favor. Em uma adaptação o texto já está escrito, e ele precisa seguir a sonoridade da música já construída. Versionistas precisam buscar formas não só de traduzir, mas de assegurar que mesmo sendo um idioma muito diferente do original, a emoção e mensagem da música são transmitidas. Produções originais conseguem explorar mais a fundo o idioma, pois as canções já são construídas em português.

    Martinho, Coração de Rei. Musical original brasileiro (também um jukebox por usar músicas do Martinho)

    Dá pra encontrar diversas outras classificações como rock musical, musical de esquete (ou Revue Musical), adaptações, Disney-style, thriller, comédia, biográficos, operettas, e até ópera. Na prática, existem diversas formas de classificar musicais, entre períodos, tamanhos de produção… O principal é reconhecer que cada musical tem sua própria identidade e impacto, seja em sua forma inovadora, no modo como a música se integra à história ou na experiência que proporciona ao público. Mais do que encaixar um musical em uma definição rígida, o mais importante é apreciar sua arte e o que ele tem a dizer.

  • O que é um Musical??

    Produção em Pauta 🎭

    Nova série na página! Vamos explorar o universo dos musicais e entender o que faz cada produção brilhar. Aqui, o foco é em você, que assiste da plateia e ama absorver cada detalhe, mesmo sem ser um especialista. O objetivo é falar do básico que ajuda a perceber o que torna cada espetáculo tão especial – porque, no fim das contas, é a plateia que transforma o trabalho no palco em algo mágico. E para começar, nada mais essencial do que responder à pergunta: o que é um musical?

    Eu gosto muito da definição do Seth Rudetsky: 
    “A maioria dos musicais tem música, letras, um livreto (o roteiro ou libreto) e dança. E as músicas geralmente avançam o enredo. Você pode encontrar variações e exceções a essa regra, mas essa é a resposta básica. 
    Um musical combina cenas, músicas e danças para contar uma história.”

    Por que essa definição é tão interessante? Especialmente pelos termos “a maioria” e “geralmente”, que mostram como o formato dos musicais é flexível. Enquanto a essência do gênero se mantém, algumas produções ousam inovar, experimentando novas formas de conectar texto, música e performance.

    E aqui está a magia: em um musical, cada elemento conta uma história. Seja o texto, figurino, visagismo, coreografia, cenografia ou iluminação, tudo precisa se integrar para dar vida aos personagens e avançar a narrativa. É essa união que faz o musical ser tão impactante: cada detalhe, por menor que pareça, é pensado para nos transportar, emocionar e fazer a história ser inesquecível. 

    Um pensamento que sempre gosto de levar comigo é: “como isso contribui para avançar a história?”. Essa pergunta nos ajuda a enxergar o propósito de cada escolha artística. Seja uma música que revela emoções profundas, uma coreografia que simboliza tensões ou um figurino que define um personagem, tudo está ali por uma razão. 

    Nesta série vamos desvendar como cada elemento de um musical – da música ao figurino, da coreografia à iluminação – se conecta para criar algo único e inesquecível. Vamos juntos entender como esses detalhes transformam uma produção em uma experiência mágica para quem assiste.