Categoria: Reviews

  • Dom Casmurro

    Eu sempre tive um carinho especial por Dom Casmurro. Quando vi que a obra ia virar musical, confesso que fiquei em dúvida. Era uma mistura de medo – aquele receio de que pudessem distorcer uma história tão querida – com a curiosidade de ver como traduziriam a essência do livro em um musical.

    Dom Casmurro, o Musical é o tipo de espetáculo que mostra o que pode acontecer quando artistas talentosos se dedicam a criar algo único.

    O cenário é simples, mas bem pensado: um fundo que parece um papel de parede desgastado (ou uma capa de livro antigo), com cadeiras que dão o tom do ambiente. Mas o que realmente te faz mergulhar na história são o desenho de luz e a direção de movimento. É incrível como essas duas coisas, sem grandes efeitos ou pirotecnia, conseguem construir as cenas com tanta profundidade. A morte de Escobar, em especial, é representada com uma coreografia cheia de significado.

    O roteiro e as músicas acrescentam novas nuances à narrativa, preservando o que há de mais genuíno na obra original.É perceptível o cuidado que tiveram em manter a ambiguidade da obra original. A maneira como os personagens ganham vida é rica e bem construída, tudo feito com respeito à complexidade do romance.

    Quanto ao elenco, todos estão em sintonia. Cada ator entrega seu personagem com autenticidade, fazendo você enxergar as emoções deles de forma clara e envolvente. A mistura de romance, humor e drama flui naturalmente, tornando o espetáculo leve e prazeroso.

    Por último mas não menos importante: Dom Casmurro tem preços muito acessíveis. Não só é uma excelente opção, como também tem um ótimo custo-benefício. Só vai, e me agradece depois!!

    Matéria Sobre a Produção

  • O Palhaço tá Sem Graça

    O Palhaço Tá Sem Graça começa com um violino, o foco se abre, o circo toma forma. Uma movimentação bem coreografada, acrobacias, luzes amarrando uma cena que encanta visualmente.

    A produção tem diversas referências do Balão Mágico. Se você viveu essa fase, provavelmente vai sentir uma conexão afetiva especial — se não, pode ser que alguns detalhes passem batido (que foi o meu caso).

    O palhaço tá sem graça pode soar um título triste,  mas a produção em si não é. O circo funciona mais como metáfora: um espaço para pensar sobre as diferentes versões de nós mesmos. Sobre o quanto realmente conhecemos quem está ao nosso lado.

    É uma dessas histórias que aquece o coração. Aquela comédia de riso fácil que cria conexão instantânea com os protagonistas. Em contrapartida, tem seus momentos dramáticos que demonstram a complexidade dos personagens. Me parece uma produção que fala com os dois públicos: usa a nostalgia para envolver os adultos e mantém uma linguagem que também alcança as crianças. Se enquadra bem na definição de “pra toda família”.

    O enredo evolui mais pelo diálogo do que pelas canções. Algumas cenas podem parecer perder um pouco o ritmo, não pela cena em si, mas por ser um diálogo maior que vem logo após uma cena muito vibrante.

    Cenário me chamou atenção. Engenhoso, bonito e com cores e estilo que realmente enriquecem a produção. Eu fiquei encantada com as luzes que formam uma tenda sobre a platéia. É um cuidado de levar a produção pra platéia que é difícil de ver.

    Desenho de luz e figurino são muito bem construídos. Um ponto interessante é que o figurino consegue ser harmônico apesar da diferença de estilos e cores que cada personagem exige.

    Há cenas em que tudo isso se alinha de maneira especial, criando imagens visualmente marcantes.

    Pois bem, se você não tem medo de palhaços, vale a pena. É uma comédia sensível, tem graça, tem drama e tem coração. Vá com o olhar atento para os aspectos visuais, os detalhes vão te surpreender.

    PS: ~75 minutos com ingressos acessíveis (especialmente às sextas).

  • Os Sons de Notre Dame

    Antes da review, contexto: é uma adaptação de um musical conhecido, realizada de forma independente — sem leis de incentivo, em um teatro de porte razoável e com poucas sessões. Ou seja, é um projeto ambicioso, com uma clara dedicação pra fazer acontecer, mas com pouco espaço para ajustes finos.

    O musical traz uma versão mais densa da história popularizada pela Disney. O roteiro traz um drama humano, sem floreios ou finais felizes. A narrativa é mais crua — e por isso mesmo, toca de um jeito diferente.

    O cenário é simples, mas bonito e engenhoso. Um fundo fixo representa a catedral de Notre Dame, com um vitral iluminado que cumpre bem seu papel. Alguns elementos móveis ajudam a compor as cenas e a guiar o olhar do público.

    Os figurinos são bem feitos e ajudam a contar a história visualmente.

    O desenho de luz no geral acerta, mas tem seus deslizes. Em diversos momentos a luz enriquece e traz uma camada extra de complexidade às cenas. Em outros o foco parece mal ajustado, ou a luz cria sombras nos rostos que escondem as expressões dos artistas.

    Mas no geral a combinação cenografia e luz criam cenas bonitas, e visualmente interessantes.

    O ponto alto da produção é a qualidade do elenco. A entrega dos atores impressiona — tanto na atuação quanto na qualidade vocal. Um destaque é o coro no palco, que adiciona intensidade e emoção às cenas. A  direção de movimento é bem realizada, trazendo uma fluidez que dá ritmo à narrativa. Mesmo o movimento do coro é muito bem desenhado e incorporado às cenas.

    No fim das contas, Sons de Notre Dame entrega algo parecido com o que você veria no 033 Rooftop, mas em um palco italiano. É uma produção que, apesar dos tropeços técnicos, tem alma, tem intenção e tem qualidade. É um espetáculo sincero, bem conduzido e com um elenco que realmente merece ser visto.

    PS: Tem 90 minutos, e ingressos são mais baratos do que produções similares.

  • Mamma Mia

    Mamma Mia esgotou antes de eu comprar ingressos, por isso vamos testar esse formato e fazer uma review colaborativa. Começando com um muito obrigada a todo mundo que me enviou feedbacks!!

    Vamos lá!

    É uma história que tem uma carga afetiva e músicas icônicas, o que facilita o envolvimento com a produção. Muita gente adorou 💕, mas nem todo mundo. Isso costuma acontecer quando a produção faz “o básico certo”, mas olhos mais treinados, ou fãs da história, conseguem pegar os tropeços e oportunidades perdidas.

    Muitos saíram encantados, elogiando a energia contagiante do elenco e destacando como o espetáculo é vibrante, mesmo para quem assiste de longe (balcão). Mas também houve quem esperasse mais, principalmente quem conhece bem a história ou tem olhar mais crítico. Um exemplo comentado foram as coreografias, que em certos momentos pareceram esvaziadas.

    Cenografia e figurinos são bonitos e cumprem seu papel, como o esperado de uma produção desse porte. Cenografia não é complexa, e parece ser uma área com oportunidades perdidas na produção. Visualmente, o musical não parece surpreender, mas também não decepciona.

    Um ponto que gerou opiniões divergentes foi o trabalho de versão, especialmente das canções. Enquanto algumas pessoas adoraram o resultado, outras sentiram que se perdeu parte do significado original. Houve comentários de que palavras não se encaixaram perfeitamente, tornando algumas canções difíceis de assimilar. Um ponto específico foi a perda de contexto da faixa “Chiquitita”, que, segundo relato, comprometeu o sentido de solidariedade e sororidade que a versão original transmite. Como também teve o feedback de que no geral “ideia e o sentimento foram mantidos”, o que eu tiro disso é que tem o aspecto natural da subjetividade de como cada um interpreta canções no geral.

    Em resumo, Mamma Mia desperta reações mistas: tem quem ache perfeito e se divirta muito, e tem quem se decepcione com alguns aspectos da execução. Minha sugestão é: se tiver a chance de assistir, vá, mas sem criar grandes expectativas. Você provavelmente vai curtir a experiência, só não espere algo inesquecível.

  • Bare, Uma Pop Ópera

    Bare, uma Pop Ópera tem a alma do off-Broadway: rebelde, alternativa, com recursos limitados, mas compensando com entrega artística e autenticidade. É melhor do que eu esperava, mas definitivamente não é pra todo mundo.

    Com classificação etária de 16 anos, a produção trata de temas sensíveis como drogas, s&xo, álcool e religiosidade estão presentes de forma direta. A trama se desenrola dentro de uma escola católica e gira em torno de um casal gay enfrentando as tensões entre desejo, culpa e repressão. A religião é um personagem à parte, presente em quase todas as decisões e conflitos. É um roteiro forte, bem amarrado, que prende — mas não é pra todo mundo.

    O cenário é simples, mas funcional e criativo. Um grande cubo com rodinhas, que ao ser movido marca a mudança de ambiente. Dois outros elementos se alternam entre arquibancada e cama, reforçando a versatilidade do espaço. Nada de grandes efeitos ou sofisticação — tudo está ali para servir à história, e cumpre bem esse papel.

    Um ponto que merece destaque é o desenho de luz. Com um cenário minimalista, a iluminação assume protagonismo. E faz isso com competência: cada cena ganha camadas e intensidade com o uso da luz, que guia o olhar e dá o tom emocional do espetáculo.

    Os figurinos seguem a mesma lógica da produção: simples, mas bem pensados. A maior parte do elenco está em uniforme escolar, e mesmo com poucas trocas de roupa, a qualidade é visível. Um momento especial — a cena de “Nossa Senhora” com as backing vocals — mostra um cuidado em construir um figurino para quem vai usá-lo. Pode parecer algo óbvio, mas não é raro ver figurinos feitos para um corpo genérico, que acabam não vestindo bem. Aqui, dá pra perceber o cuidado em respeitar e valorizar cada corpo em cena.

    Bare, uma ópera pop, entrega uma experiência honesta e bem construída. Não é para todos, e nem tenta ser. Mas, se você estiver aberto a temas complexos e intensos, é uma produção que vale a pena conferir.

    Trecho da Produção

  • O Mágico di Ó

    O Mágico di Ó se destaca pelo seu texto envolvente, que explora o poder das palavras e homenageia o cordel. A produção é simples, mas bem executada, com uma direção impecável e um elenco talentoso.


    Boas produções sempre têm algo que chama a atenção—pode ser a complexidade vocal das canções, um cenário bem elaborado ou coreografias complexas. Em O Mágico di Ó, o grande destaque é o texto (ou livreto, ou a junção de letras e diálogos, como quiser chamar). Ele explora o poder das palavras e da linguagem, provocando emoções e divertindo. Ao mesmo tempo, faz uma bela homenagem ao cordel, esse belo pedaço da nossa cultura cultura tão rico quanto pouco lembrado.

    O Mágico di Ó é uma ótima opção para toda a família. Apesar de inspirado na história infantil, traz uma roupagem diferente que entretém as crianças e, ao mesmo tempo, oferece reflexões e diverte os adultos.

    O cenário, embora simples, cumpre bem seu papel, enquanto figurino e visagismo se destacam—sobretudo no uso da maquiagem que remete ao traço característico do cordel.

    A direção também merece menção: mesmo com recursos limitados de luz e um cenário enxuto, os artistas interpretam, cantam, movimentam elementos de cena e até tocam instrumentos, tudo de forma bem orquestrada e com propósito. É um trabalho que surpreende pela harmonia e pela forma como cada detalhe é pensado.

    Gostei tanto do texto que acabei levando o livro para casa. O elenco é incrível, a produção é simples, mas bem construída. Só vai e me agradece depois.

    Teaser da Produção

  • Uma Babá Quase Perfeita

    Uma Babá Quase Perfeita é o tipo de musical que aquece o coração e entrega um final que, embora não seja de conto de fadas, parece na medida certa. A premissa da história pode ser absurda, mas o roteiro trata de conflitos e dilemas comuns no dia a dia, o que facilita o envolvimento com a história.

    Normalmente não sou fã de textos adaptados, costumo ter a sensação de não ser tão natural quanto em obras originais em português. Não senti isso em Uma Babá Quase Perfeita. Acredito que seja o efeito combinado da produção não ter músicas icônicas super conhecidas, aliado a um ótimo trabalho de versão.

    A coreografia impressiona, muito bem construída e executada. Algumas cenas possuem um “caos” organizado que traduzem bem o clima do momento. Porém, na cena do lançamento da marca de roupa, embora seja divertida, me causou uma estranheza leve: a protagonista exibe uma habilidade de ballet que não condiz muito com a construção da personagem até ali. Só preciosismo, não impacta a história, mas me chamou atenção por não ser algo sugerido na narrativa.

    Um grande destaque é o cenário, que apresenta diversos ambientes cuidadosamente planejados, cada um repleto de detalhes que enriquecem a narrativa.

    Na sessão que assisti a iluminação não estava totalmente afinada…os focos pareciam um pouco fora de lugar em algumas cenas. Nada que estrague a experiência, mas reduziu um pouco do impacto visual.

    Os figurinos seguem uma proposta bem cotidiana, quase imperceptível de tão bem resolvidos. Há inúmeras trocas de roupas, e sempre muito interessantes apesar de serem “comuns”.

    No geral, Uma Babá Quase Perfeita diverte, emociona e desperta aquela nostalgia gostosa do filme que todo mundo ama. Super recomendo e está na minha listinha de “Top em Cartaz”.

    Número da Adaptação do Brasil

    Número da Versão da Broadway

  • Wicked

    Wicked é cativante. Possui uma narrativa envolvente, contada através de uma produção grandiosa. O cenário impressiona por sua complexidade e riqueza de detalhes. Entre coreografias dinâmicas, figurinos bem construídos e um elenco maravilhoso… É uma parada obrigatória para todo amante de musicais.


    Impossível não amar Wicked. A história é linda, atemporal, divertida e ainda faz você refletir. Em cartaz há mais de 20 anos na Broadway, chega agora à sua terceira temporada no Brasil, a produção continua evoluindo e conquistando o público.

    A produção é rica em detalhes: é perceptível como tudo foi cuidadosamente planejado e executado. Geralmente, as produções sempre tem algum elemento onde apostam em algo “simples, mas bem feito”. Já em Wicked, tudo é complexo, dinâmico e perfeitamente alinhado, transformando o musical em uma experiência única.

    A única parte que me desagradou foi a projeção do Mágico. Em outras produções, ele surge como uma cabeça gigante que transmite aquela sensação de algo mecânico e pouco natural. Nesta versão, o Mágico é projetado em tons alaranjados sobre uma estrutura cinza arredondada, por algum motivo me lembrou o Zordon de “Power Rangers”. Foi a única escolha de cenário que achei discutível, especialmente por ser um elemento tão central (mesmo aparecendo por pouco tempo). Em contrapartida, vale destacar como o palco traz duas grandes estruturas laterais para representar Shiz e Oz, tudo muito bem construído, contribuindo para a grandiosidade da montagem.

    No geral, Wicked está maravilhoso e imperdível pra qualquer fã de musical. Especialmente, é uma produção que vale a pena não apenas ser vista, mas ser apreciada. Os cristais iluminados na árvore, os detalhes do cenário de Oz, a estampa do uniforme de Shiz, o dinamismo da coreografia. A temporada é curta para uma produção desse porte, então vale a pena garantir seus ingressos antes que acabem.

    Para quem adquiriu o ingresso esmeralda, há um tour guiado de cerca de 10 minutos pelo palco antes do início do espetáculo. São grupos pequenos e a experiência permite ver de perto detalhes do cenário que não são visíveis da plateia, mas não é permitido fotografar ou filmar.

    Logística: chegue cedo para evitar transtornos. Tem fila pra tudo, a maior segredo a do programa de fidelidade. Ingresso esmeralda é “liberado” após o tour, ou seja, se você estiver no fim da fila esmeralda, terá pouco tempo no saguão antes do espetáculo. Se planeje!!

  • Uma Coisa Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum

    Com letras de Stephen Sondheim, a montagem traz o clássico de 1962 com humor leve e timing perfeito do elenco. O cenário fixo ganha vida graças a movimentações ágeis e iluminação moderna. Ideal para quem busca uma experiência de teatro musical descontraída.


    Uma coisa engraçada aconteceu a caminho do fórum é uma adaptação de uma produção de 1962, com letras de Stephen Sondheim, um dos grandes nomes do teatro musical. Algumas obras resistem ao teste do tempo, não tenho certeza se essa é uma delas.

    A peça traz aquele humor fácil, uma mistura de Trapalhões com Sessão da Tarde, cheia de piadas com trocadilhos e perseguições onde cada personagem corre para um lado. Mesmo que você já tenha visto esse tipo de cena mil vezes (e rido em todas), a plateia se diverte do início ao fim. É interessante notar como a luz da plateia permanece parcialmente acesa, o que parece estimular ainda mais essa atmosfera de riso contagiante. Essa energia é mantida graças a um elenco que domina o timing de comédia.

    O cenário é fixo, formado por três casas caricatas, inspiradas na Roma Antiga. Apesar disso, ele ganha dinamismo com um desenho de luz muito bem elaborado, que em determinados momentos recorre a neons para criar um ar moderno.

    A direção de movimento merece destaque: com tanta gente entrando e saindo de cena, fica claro que é tudo muito bem pensado. Tem pouca coreografia, mas muito bem construída e executada.

    Agora o mas…

    A história se passa na Roma antiga: um jovem se apaixona por uma meretriz que foi vendida a um capitão do exército. Pseudolus, escravo do rapaz (interpretado por Falabella), promete ajudá-lo a ficar com ela, em troca da própria liberdade.  O aspecto cômico vem das confusões e mentiras criadas por Pseudolus em busca de seu objetivo. Embora a plateia se divirta bastante, se você não se sente à vontade vendo esse tema abordado de forma cômica, essa produção não é pra você.

    Costumo não recomendar produções que tragam algum tipo de ressalva. Fica a dica, é um clássico, se o enredo não te incomodar, acredito que você vá se divertir bastante.

    Número da Produção

  • Memórias Póstumas de Brás Cubas

    Uma excelente oportunidade de redescobrir um clássico literário brasileiro de forma leve e dinâmica. Um monólogo bem construído, capaz de prender a atenção pela atuação dinâmica e criativa. O cenário minimalista, mas engenhoso, demonstra como criatividade não depende de grandes recursos. Uma experiência essencial para quem deseja mergulhar em um clássico brasileiro.


    Algumas experiências são necessárias, e Memórias Póstumas de Brás Cubas se encaixa nessa categoria. É uma excelente oportunidade para redescobrir esse clássico da nossa literatura sob um novo olhar. Vamos ser sinceros: nem sempre valorizamos esse tipo de obra como mereceria, mas esse espetáculo facilita bastante.

    É um monólogo, com todos os desafios que o modelo traz. É muito bem executado e dinâmico, com um ator que consegue ocupar bem o palco e, de vez em quando, caminha entre o público, aproximando ainda mais quem assiste da história.

    O cenário é simples e criativo: um banco em forma de caixão acompanhado de poucos elementos cênicos. O fundo merece destaque, pois traz uma pintura representando o Rio de Janeiro coberta por um tecido escuro, que fica mais ou menos visível dependendo da iluminação. É uma excelente demonstração de que qualidade não vem do complexo e caro, mas da habilidade do time criativo.

    O texto é fiel ao livro, porém com músicas especialmente compostas para a peça. Se você prestar atenção, conseguirá perceber uma diferença sutil entre o estilo da narrativa e as letras das canções – que, aliás, são bem escritas. Um ponto interessante é que, embora seja um musical, ele não possui tantas canções quanto você pode imaginar. Por um lado, fica uma sensação de que poderia ter um pouco mais de música; por outro, é bacana notar a preocupação em manter a fidelidade ao texto original.

    O espetáculo tem o tempo certo pra não chegar a ser cansativo, mas sei que monólogo não agrada todo mundo.

    A peça já teve várias temporadas ao longo dos anos, o que naturalmente comprova seu valor. Por outro lado, parece ter mudado pouco desde que começou (pelo menos pelo que dá para perceber nas fotos e vídeos mais antigos). Em meio a tantas novidades no teatro atual—com cenários elaborados e surpresas no palco—é bom saber de antemão que esta montagem segue um caminho mais simples e “tradicional”.

    De qualquer forma, é um espetáculo que merece ser visto, principalmente se você estiver aberto ao principal objetivo: apreciar uma adaptação criativa e bem realizada de um texto clássico da literatura brasileira.