A produção encanta visualmente com um cenário que remete ao interior de um piano e silhuetas do Rio de Janeiro. O musical brilha pela integração cuidadosa do espírito da bossa nova em todos os detalhes do musical. Além disso, conta com uma coreografia fluida e figurinos bem construídos que adicionam dinamismo e contexto às cenas.
Assistir Tom Jobim Musical é desfrutar de uma homenagem sincera e bem construída a um grande ícone da música brasileira.
Fui assistir a Tom Jobim com um viés: queria muito gostar. É bom, mas não é “o que eu esperava”, e expectativa gera frustração. Ainda assim, recomendo a experiência… É uma excelente oportunidade de celebrar a história de um dos grandes nomes da música brasileira.
Tom Jobim Musical mostra uma sofisticação discreta, criando uma atmosfera que verdadeiramente reflete a essência da bossa nova. A produção é visualmente atraente e tem vocais belíssimos, ou seja, no geral é uma experiência muito agradável.
Coreografia está irretocável: interessante e bem executada. Sem mais.
O figurino merece destaque pelo cuidado como retrata os personagens e atenção aos detalhes e contexto da época. Chama atenção especialmente o trabalho feito com o figurino do ensemble. Ele adiciona fluidez e movimento às cenas, enriquecendo visualmente toda a experiência do espetáculo.
O Cenário é lindo. Ele possui estruturas de madeira que representam a parte interna do piano, enquanto criam a silhueta da cidade do Rio de Janeiro. Tem uma vírgula: um círculo branco que é usado em projeções de algumas cenas. Confesso que achei desnecessário. As projeções cortam a sutileza das cenas com imagens realistas que quebram a elegância e delicadeza da cena sem adicionar um contexto muito relevante.
Montar um musical sobre músicos é um super desafio, já que as canções originais não foram feitas pensando em uma narrativa teatral. Integrar as músicas de Tom Jobim para contar sua história exige cuidado para respeitar o legado artístico e manter o ritmo narrativo. Dito isso, o roteiro não me envolveu completamente: o primeiro ato, embora bonito, é um pouco monótono. O segundo ato ganha ritmo e é bem mais interessante. Destaque especial para a cena do divórcio, muito bem construída e que mostra claramente como música e narrativa podem caminhar juntas para construir algo único.
No fim, saí do teatro com a sensação de ter vivido uma experiência agradável. Não é a montagem mais impactante que já vi, mas tem muitos méritos e faz jus à grandiosidade de Tom Jobim.
“Tipos de musical”… Parecia algo óbvio e simples, mas entrei em uma espiral sem fim de “por período”, “por estilo”, “deveria incluir opera?”, “tipos não incluem versões, mas é uma distinção importante”. Então vamos fazer um apanhado geral, mas que começar a dar um “norte”, e traz luz a alguns aspectos interessantes a serem observados.
[Alguns] Tipos de Musical 🎭
Book Musicals (Musical de livreto/tradicional)
Musicais que seguem uma estrutura narrativa bem definida, onde as músicas e danças são integradas ao enredo para desenvolver a história e os personagens.
– Estrutura narrativa linear e coesa, semelhante a uma peça de teatro tradicional. – Canções e números musicais impulsionam o enredo e aprofundam os personagens. – Geralmente incluem diálogos falados entre as músicas. – São a base do musical integrado, onde todos os elementos artísticos servem à história.
Exemplos: Les Misérables, Wicked, Dear Evan Hansen
Jukebox Musical
Aqui, as músicas já existem e são famosas antes mesmo do espetáculo ser criado. Geralmente, são sucessos de uma banda ou artista, e o enredo é desenvolvido para encaixar essas músicas.
– Trilha sonora composta por músicas previamente conhecidas. – Pode seguir uma narrativa original ou contar a história real de um artista/grupo. – Apelo nostálgico, muitas vezes voltado para fãs do repertório musical. – Grande foco na performance das músicas, podendo priorizar hits sobre a trama.
Exemplos: Mamma Mia! (ABBA), We Will Rock You (Queen) e Moulin Rouge!.
Moulin Rouge, act 2 scene with Bad Romance from Lady Gaga
Diferente dos musicais tradicionais, onde há alternância entre falas e músicas, nos sung-through musicals quase todo o enredo é contado por meio das canções. O diálogo falado é mínimo ou inexistente, tornando a música o principal meio de narração e desenvolvimento dos personagens.
– Pouca ou nenhuma fala, com a narrativa construída exclusivamente através da música. – Estrutura próxima à ópera, mas com estilos variados, incluindo pop, rock e hip-hop. – Canções interligadas, muitas vezes recorrentes ao longo da trama. – Maior fluidez narrativa, sem pausas abruptas para diálogos convencionais.
Exemplos: Les Miserables, Evita, Hamilton
Hamilton (disponível no Disney+)
Musical Conceitual
Neste tipo de musical, a história pode ser mais abstrata ou não seguir uma narrativa linear. Muitas vezes, o espetáculo explora temas ou conceitos específicos por meio da música e da encenação.
– A história pode ser não-linear ou fragmentada, explorando diferentes perspectivas. – Muitas vezes, a experiência sensorial (música, dança, cenário) é tão importante quanto a trama. – Pode se concentrar em temas universais, metáforas ou reflexões filosóficas. – Costuma desafiar o formato tradicional dos book musicals, inovando na estrutura. Exemplos: Cats, Company e A Chorus Line.
Highlight ✨
Golden Age (Era de Ouro)
Musicais criados entre 1940s–1960s. Período em que o musical integrado se consolidou, com canções, dança e enredo trabalhando juntos para contar a história. Esse formato foi popularizado por criadores icônicos como Rodgers & Hammerstein, Lerner & Loewe e Leonard Bernstein, que elevaram o gênero com narrativas envolventes e músicas sofisticadas.
– Histórias românticas, heroicas ou inspiradoras, muitas vezes com mensagens otimistas. – Músicas orquestradas, ricas em melodia e harmonias tradicionais. – Letras que impulsionam o enredo e aprofundam os personagens. – Produções clássicas e marcantes que definiram o padrão do teatro musical modern
Oklahoma!, My Fair Lady, West Side Story, A Noviça Rebelde, Guys and Dolls, Kiss me Kate, Funny Girl
Funny Girl (Golden Age)
De forma complementar, no Brasil os musicais também podem ser classificados de acordo com sua origem. Podemos diferenciar entre versões traduzidas de musicais estrangeiros e musicais originais nacionais:
Musicais Versionados
São espetáculos originalmente criados no exterior que foram traduzidos e adaptados para o Brasil, mantendo as músicas, o enredo e o estilo da produção original.
– Tradução e adaptação das letras e do roteiro para o português. – Produções licenciadas oficialmente, respeitando os direitos autorais. – Algumas adaptações podem incluir referências culturais brasileiras para melhor conexão com o público. – Montagens seguem o padrão técnico e artístico das produções internacionais. Exemplos: Wicked, Meninas Malvadas, Mamma Mia!, o Rei Leão.
Tarsila, a Brasileira (produção original nacional)
Musicais Originais Nacionais
São espetáculos criados e desenvolvidos no Brasil, com roteiro, músicas e encenação originais. Esses musicais podem explorar temas brasileiros ou universais, muitas vezes refletindo a cultura e a identidade nacional.
– Enredo e músicas compostos originalmente em português. – Elementos culturais brasileiros, como ritmos nacionais (samba, bossa nova, MPB, funk, sertanejo). – Podem ser inspirados em histórias reais, figuras icônicas ou temas contemporâneos. – Alguns se tornam sucessos e são exportados para outros países.
Exemplos: Ópera do Malandro (Chico Buarque), Elis, A Musical, Tarsila, Dom Casmurro, Martinho, Donatello.
Uma coisa interessante, é que normalmente musicais Broadway/West End tem uma estrutura quase que fixa. Aquele formato que comercialmente funciona muito bem, e que as versões precisam seguir quase a risca. Musicais nacionais tendem a ter duas coisas a seu favor: – Podem explorar novos caminhos na produção. Normalmente vemos uma exploração maior de alternativas de cenários, caracterização dos personagens e construção de cenas. Pra ser justo, muitas vezes isso é quase forçado por restrições de orçamento, mas muitas vezes tem resultados maravilhosos. – Possuem o idioma a seu favor. Em uma adaptação o texto já está escrito, e ele precisa seguir a sonoridade da música já construída. Versionistas precisam buscar formas não só de traduzir, mas de assegurar que mesmo sendo um idioma muito diferente do original, a emoção e mensagem da música são transmitidas. Produções originais conseguem explorar mais a fundo o idioma, pois as canções já são construídas em português.
Martinho, Coração de Rei. Musical original brasileiro (também um jukebox por usar músicas do Martinho)
Dá pra encontrar diversas outras classificações como rock musical, musical de esquete (ou Revue Musical), adaptações, Disney-style, thriller, comédia, biográficos, operettas, e até ópera. Na prática, existem diversas formas de classificar musicais, entre períodos, tamanhos de produção… O principal é reconhecer que cada musical tem sua própria identidade e impacto, seja em sua forma inovadora, no modo como a música se integra à história ou na experiência que proporciona ao público. Mais do que encaixar um musical em uma definição rígida, o mais importante é apreciar sua arte e o que ele tem a dizer.
Nova série na página! Vamos explorar o universo dos musicais e entender o que faz cada produção brilhar. Aqui, o foco é em você, que assiste da plateia e ama absorver cada detalhe, mesmo sem ser um especialista. O objetivo é falar do básico que ajuda a perceber o que torna cada espetáculo tão especial – porque, no fim das contas, é a plateia que transforma o trabalho no palco em algo mágico. E para começar, nada mais essencial do que responder à pergunta: o que é um musical?
Eu gosto muito da definição do Seth Rudetsky: “A maioria dos musicais tem música, letras, um livreto (o roteiro ou libreto) e dança. E as músicas geralmente avançam o enredo. Você pode encontrar variações e exceções a essa regra, mas essa é a resposta básica. Um musical combina cenas, músicas e danças para contar uma história.”
Por que essa definição é tão interessante? Especialmente pelos termos “a maioria” e “geralmente”, que mostram como o formato dos musicais é flexível. Enquanto a essência do gênero se mantém, algumas produções ousam inovar, experimentando novas formas de conectar texto, música e performance.
E aqui está a magia: em um musical, cada elemento conta uma história. Seja o texto, figurino, visagismo, coreografia, cenografia ou iluminação, tudo precisa se integrar para dar vida aos personagens e avançar a narrativa. É essa união que faz o musical ser tão impactante: cada detalhe, por menor que pareça, é pensado para nos transportar, emocionar e fazer a história ser inesquecível.
Um pensamento que sempre gosto de levar comigo é: “como isso contribui para avançar a história?”. Essa pergunta nos ajuda a enxergar o propósito de cada escolha artística. Seja uma música que revela emoções profundas, uma coreografia que simboliza tensões ou um figurino que define um personagem, tudo está ali por uma razão.
Nesta série vamos desvendar como cada elemento de um musical – da música ao figurino, da coreografia à iluminação – se conecta para criar algo único e inesquecível. Vamos juntos entender como esses detalhes transformam uma produção em uma experiência mágica para quem assiste.
Uma dessas histórias onde a força da amizade supera qualquer obstáculo, com um toque encantador de brasilidade que cativa o público. O espetáculo se destaca pela explosão de cores, contando com um cenário simples e um roteiro descomplicado. Tem um foco infantojuvenil, mas funciona para todas as idades.
Sonho Encantado de Cordel é uma daquelas coisas que aquecem o coração. Leve, divertida e com uma pureza encantadora. É aquela história gostosa de se ver, o clichê que funciona, onde a força da amizade supera qualquer obstáculo.
O cenário não é muito elaborado, compondo o ambiente com projeções e elementos simples (e com um acabamento que deixa um pouco a desejar). Os figurinos chamam a atenção! São belos, bem elaborados, com exceção do Netuno, que me pareceu um pouco fora do tom. Mas, tirando isso, tudo é bem pensado e construído.
A trama? Uma graça! Acompanhamos Rosa Cordelista em uma jornada ao lado de Hans Christian Andersen, numa espécie de “origem” dos seus contos clássicos. Tem reis, sereias, bruxa má e um reino encantado. Embora seja claramente voltada para o público infantojuvenil, a história cativa qualquer faixa etária.
O que mais me encantou foi a explosão de cores e o dinamismo. A narrativa flui com rapidez, mantendo o interesse com vários núcleos, mesmo sendo um roteiro simples.
E com aproximadamente 70 minutos, o espetáculo é ótimo para quem busca uma experiência divertida sem comprometer o resto do dia.
Agora a pergunta mais complicada… Recomendo para adultos sem crianças? Talvez! Se você é do tipo que ama assistir todos os musicais, vá em frente, vai curtir. Se busca algo leve, rápido, uma distração gostosa com uma história fofinha, também vale a pena. Mas, se está esperando um musical “tradicional” ou uma trama mais complexa, esse talvez não seja o espetáculo ideal para você.
Trecho da Sinopse A história gira em torno de Rosa Cordelista, uma jovem determinada que, apesar da desaprovação de sua mãe, sonha em se tornar uma grande cordelista. Movida pela força de sua imaginação, Rosa é transportada em um sonho mágico para um universo encantado, onde encontra o lendário Hans Christian Andersen. Juntos, eles embarcam em uma jornada emocionante, repleta de personagens míticos dos contos de fadas do autor.
Um espetáculo sobre Brasil com jeito de Broadway. Rio Uphill tem uma narrativa ágil que explora as nuances do Rio de Janeiro. Com músicas envolventes, e coreografias marcantes, a produção encanta e surpreende do início ao fim.
Quando fui assistir Rio Uphill, entrei sem criar expectativas, como costumo fazer. Expectativa é sempre uma roleta-russa entre frustração e alegria. Felizmente, nesse caso, saí do teatro animada e genuinamente surpresa.
O espetáculo já tem uma história interessante antes mesmo de começar. Concebido em Nova York, Rio Uphill acabou se transformando em um filme independente durante a pandemia, já que não pôde estrear nos teatros. Apesar de ser uma obra com alma brasileira, ela foi claramente idealizada para os palcos da Broadway. Essa mistura confere ao espetáculo um charme único: uma visão do Brasil contado “para fora”, com uma estrutura que remete à Broadway, incluindo excelentes solos musicais.
O texto é ágil e bem estruturado, abordando diversos temas em pouco tempo, mas sem atropelos. Ele flui de forma natural e amarra as histórias com inteligência. As músicas são um dos grandes destaques da produção, com uma fusão marcante de estilos como samba, funk, pop e eletrônico. O resultado é uma trilha sonora pulsante, comercial e, ao mesmo tempo, autêntica. Algumas expressões típicas da cultura brasileira, como “arrasta pra cima” ou “virar saudade”, podem não ser claras para todos os públicos, mas isso não compromete a narrativa. Pelo contrário, essas nuances enriquecem a produção e traduzem com sensibilidade as contradições de ser brasileiro, refletindo desafios e alegrias que fazem parte do cotidiano.
A cenografia é outro ponto que merece destaque. Inspirada na topografia das favelas, o cenário traz um visual assimétrico e criativo, complementado por TVs no palco que adicionam camadas ao contexto das cenas. As estruturas são versáteis, transformando-se entre casa e morro, acompanhando de forma dinâmica o desenrolar da história.
A direção de movimento também impressiona. As transições do cenário são conduzidas pelo elenco de maneira fluída, integrando-se perfeitamente às coreografias. Isso casa perfeitamente com as coreografias, que são muito bem trabalhadas. Dá pra sentir o estudo por trás de cada passo, especialmente na forma como eles trazem o baile funk para o palco, mas sem cair em esteriótipos ou caricaturas.
No final, Rio Uphill me surpreendeu positivamente. Com apenas 1h30 de duração, é uma ótima opção para quem busca um espetáculo repleto de energia, bem produzido e que não exige horas no teatro. É uma verdadeira celebração da cultura brasileira, com um toque universal que encanta qualquer público.