
Assistir a quase três horas de um musical com músicas de Djavan e um ótimo elenco é certamente uma ótima experiência. Mas, sendo sincera, eu estava com uma expectativa diferente…
Os figurinos merecem destaque: simples à primeira vista, mas carregados de significado. Na caracterização do próprio Djavan, cada troca de roupa acompanha um momento da trajetória do artista, desde o início modesto até a consagração. É um recurso que ajuda a contar a história de forma clara e visual.
O cenário é enxuto, centrado em uma grande estrutura ao fundo que se transforma ao longo do espetáculo. Ora se une em um paredão imponente, ora se abre para revelar novas camadas. A iluminação assume papel fundamental nesse contexto, criando atmosferas diferentes e trazendo complexidade às cenas. Pelo tamanho da produção, acredito que tinha margem para uma cenografia mais complexa, mas a movimentação e desenho de luz no geral suprem bem isso.
O elenco é super talentoso e por vezes se desdobra entre diferentes papéis. A movimentação é interessante, mesmo que as coreografias sejam mais simples. Um dos pontos altos é quando a plateia é convidada a cantar no segundo ato — e, em algumas músicas, o público acompanha naturalmente. Essa troca é bonita de ver e mostra o quanto Djavan faz parte da memória coletiva.
Toda produção bibliográfica de um músico passa pelo desafio de trazer a história e o repertório de forma orquestrada. O roteiro executa isso muito bem, a narrativa mescla canções e texto de forma fluida, mesmo seguindo uma linha cronológica não linear. A dramaturgia escolhe dar mais espaço para os momentos positivos da trajetória, deixando os desafios em segundo plano. Isso torna a experiência leve e agradável, mas não marcante.
Pois bem, é o tipo de produção que não tem como não gostar. Em tendo a oportunidade, vale a pena.
PS: Sempre ouvi Djavan “de fundo”, quando tocava em algum lugar. Não lembrava a última vez que tinha ouvido uma música… me surpreendi com a quantidade de músicas que eu sabia cantar. O quanto ela te marca pra vida sem você perceber é provavelmente um dos melhores atestados da força da obra de um artista.